quarta-feira, 27 de maio de 2009

Fêmeas imitam fêmeas na escolha do parceiro

A informação está à nossa volta; seja na nossa forma de ver o mundo, i.e. informação pessoal ou individual, seja por observar como os outros se comportam face ao mundo, i.e. informação pública. Esse também é o caso de outros animais e mesmo plantas. Por exemplo, fêmeas de uma dada espécie quando procuram um parceiro para acasalar observam os diferentes machos e escolhem o melhor, utilizando a sua informação sobre o macho, que conseguem observar, através da informação pessoal. Contudo, seria de esperar que caso existisse informação pública sobre a qualidade dos machos as fêmeas também a utilizassem.

Muito recentemente, uma equipa que integrava a investigadora Susana Varela publicou um artigo na Current Biology demonstrando que as moscas usam informação pública aquando da prospecção de parceiro para acasalar. Este estudo evidencia ainda que se existir um conflito entre a informação pessoal, aquela que consegue extrair directamente, e a informação pública, aquela que é extraída através da observação do comportamento de outras fêmeas, as moscas utilizam a informação pública. Estes investigadores descobriram ainda que as moscas conseguem associar uma característica do macho ao seu sucesso (presença de fêmeas) e futuramente seleccionar preferencialmente outros machos que possuam a mesma característica, mostrando que as moscas são capazes de generalizar informação aprendida socialmente. Este estudo demonstra que as moscas detêm capacidades cognitivas impensáveis até há muito pouco tempo. 

Portanto, pense duas vezes da próxima vez que for matar uma mosca da fruta.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Os odores nas notícias

Pois é, parece que a navegação dos pombos é notícia... ainda bem.

Contudo, há sempre um senão. A referência ao que era previamente aceite como verdade em ciência como "crença" é um pouco demais, mesmo para uma certa charmosa liberdade literária.

Assim, para que fique claro, o que era considerado anteriormente como sendo o papel dos odores na navegação não era uma "crença", pois estava estabelecido em estudos experimentais bem realizados, em que a interpretação dos resultados era coerente. Isto é muito longe daquilo que popularmente se denomina por crença.

O mérito deste trabalho é reavaliar as conclusões anteriores à luz de uma abordagem experimental elegante, aprofundando um pouco mais as conclusões anteriores . O mérito da equipa liderada por Paulo Jorge é produzir uma nova conclusão que unifica os seus resultados com os da investigação anterior.

Assim se faz ciência.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O cheiro como activação da orientação

Centenas de trabalhos no último século têm tentado compreender como as aves e em geral todos os organismos se orientam. Como na maioria dos casos em ciência, uma resposta trás consigo uma dúzia de novas perguntas. Muitos mecanismos de orientação têm sido descritos ao longo dos anos nos diferentes grupos animais, como por exemplo, navegação magnética, pelas estrelas, marcos no terreno, luz polarizada ou odores.

Os pombos têm sido o modelo por excelência para o estudo da orientação e navegação tendo contribuído em muito para o actual estado de conhecimento.

Uma das teorias dominantes sobre a orientação nos pombos defende que estes usariam um mapa de odores para se orientar, teoria que vem dos anos oitenta e que teve suporte experimental em trabalhos realizados em Itália e na Alemanha. Dia 9 de Abril foi alcançado um grande marco no estudo da orientação em vertebrados com a publicação do trabalho intitulado “Activational Rather Than Navigational Effects of Odors on Homing of Young Pigeons”, tentativamente, os odores têm um efeito de activação mais do que de navegação em pombos jovens.

Neste trabalho, publicado na prestigiada Current Biology, a equipa liderada por Paulo Jorge demonstrou experimentalmente que os odores representam um papel importante no processo de orientação, mas não como fonte directa de informação. Mas então como é que os odores auxiliam a orientação?

Os seus resultados mostram que pombos privados de odores apresentavam uma pior performance de navegação que pombos com acesso a odores naturais, como os resultados de experiencias anteriores de outros autores. Contudo, a utilização de um segundo control, em que se fornecia odores sintético permitiu obter resultados de performance de navegação semelhantes ao dos odores naturais. Ora, este resultado espantoso contraria o possível papel dos odores como informação para a navegação em vez disso suporta a hipótese de os odores funcionarem como uma espécie de activação dos mecanismos de recolha de informação de navegação. Cada variação de odor levaria o pombos a recolher informação de navegação, como marcos terrestres ou magnéticos. Como na ciência ideal, esta hipótese explica os resultados anteriores, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento. Este trabalho representa um avanço muito significativo nesta área do conhecimento.