Centenas de trabalhos no último século têm tentado compreender como as aves e em geral todos os organismos se orientam. Como na maioria dos casos em ciência, uma resposta trás consigo uma dúzia de novas perguntas. Muitos mecanismos de orientação têm sido descritos ao longo dos anos nos diferentes grupos animais, como por exemplo, navegação magnética, pelas estrelas, marcos no terreno, luz polarizada ou odores.
Os pombos têm sido o modelo por excelência para o estudo da orientação e navegação tendo contribuído em muito para o actual estado de conhecimento.
Uma das teorias dominantes sobre a orientação nos pombos defende que estes usariam um mapa de odores para se orientar, teoria que vem dos anos oitenta e que teve suporte experimental em trabalhos realizados em Itália e na Alemanha. Dia 9 de Abril foi alcançado um grande marco no estudo da orientação em vertebrados com a publicação do trabalho intitulado “Activational Rather Than Navigational Effects of Odors on Homing of Young Pigeons”, tentativamente, os odores têm um efeito de activação mais do que de navegação em pombos jovens.
Neste trabalho, publicado na prestigiada Current Biology, a equipa liderada por Paulo Jorge demonstrou experimentalmente que os odores representam um papel importante no processo de orientação, mas não como fonte directa de informação. Mas então como é que os odores auxiliam a orientação?
Os seus resultados mostram que pombos privados de odores apresentavam uma pior performance de navegação que pombos com acesso a odores naturais, como os resultados de experiencias anteriores de outros autores. Contudo, a utilização de um segundo control, em que se fornecia odores sintético permitiu obter resultados de performance de navegação semelhantes ao dos odores naturais. Ora, este resultado espantoso contraria o possível papel dos odores como informação para a navegação em vez disso suporta a hipótese de os odores funcionarem como uma espécie de activação dos mecanismos de recolha de informação de navegação. Cada variação de odor levaria o pombos a recolher informação de navegação, como marcos terrestres ou magnéticos. Como na ciência ideal, esta hipótese explica os resultados anteriores, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento. Este trabalho representa um avanço muito significativo nesta área do conhecimento.
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